segunda-feira, 23 de maio de 2011

Um pouco do INCA.

Estou sem postar aqui há muito tempo, mas muitos me procuraram, e pediram para eu não deixar o blog abandonado, e por isso, cá estou eu para escrever um pouco pra todos.
Pensei muito no que iria postar, e confesso que ainda não sei sobre o que vou postar, por isso, nem sei que título eu vou dar. Não quero fazer desse blog, algo repetitivo, que sempre aborde o mesmo assunto. Decidi então, apenas escrever o que vier a cabeça, e no final, eu vejo sobre o que escrevi e qual titulo vou dar (só espero que não fique uma porcaria rsrsrs).
Claro que vou falar sobre o INCA e a especialização, soma de conhecimento e vivência lá dentro, mas ainda não sei ao certo sobre o que exatamente falar.
Sobre a especialização, posso afirmar (e desanimar alguns) que é algo extremamente cansativo. Muito, mas muito puxado mesmo. De segunda a sexta de 8 as 17 não é moleza não, ainda mais com a grande quantidade de pacientes que são atendidos todos os dias no setor de radioterapia. O que pra prática, é muito bom.
Vi que não tem lugar melhor pra se aprender. Lá tem todos os setores e tipos de aparelhos usados para tratamento radioterápico, que vai desde os Clinacs (linac (sem o "c" mesmo)-> abreviatura em inglês de acelerador linear), Trilogy (o acelerador mais moderno que tem no INCA) e bombas de cobalto (que hoje em dia é pouco utilizado nas clínicas e hospitais particulares), até um setor só para simulação, que são o tomógrafo, para simulação 3D e os 2 simuladores, para simulação 2 D. Para o paciente (e para nós aprendermos) o tratamento é o melhor possível, alocando os pacientes de acordo com o aparelho mais apropriado para o tratamento, coisa que não acontece por ai..
Mas tenho que confessar que estou decepcionado com a teoria passada durante a especialização. Pouquíssimas aulas teóricas. O material que nos foi passado, como o livro de atualização junto com o cd, é muito interessante, mas ainda sim, poderia haver mais aula teórica. Quem me conhece, sabe que gosto de saber perfeitamente o que estou fazendo, e não apenas reproduzir, de forma mecânica e metódica, o que me foi passado. Gosto de entender o porque de se fazer isso ou aquilo, e, se a gente não interrogar os profissionais que acompanhamos todos os dias, e/ou meter a cara sozinho, realmente, fica complicado.
Quanto ao que vejo lá...putz.
É engraçado como nas piores coisas que imaginávamos poder ver, como no caso das crianças, é onde temos muita surpresa boa e agradável. Ver aqueles pequenos, que desde cedo lutam pela vida, esperando a hora de ser tratado, brincando que nem doidos, fazendo a maior bagunça, definiticamente, não tem preço. Nunca uma bagunça generalizada foi tão bem vinda. Sinal de que tudo está indo pelo caminho certo.
Mais agradável ainda, é ver aquele pequenininho, que no início do tratamento, chegava de cadeira de rodas, mal conseguindo levantar a cabeça, simplesmente, aparecer um dia andando e sorrindo. Ai você olha e fala: "Vem aqui dá um abraço no tio.", e ele vai até você, ainda que com uma corridinha discreta e sem muita força, e te dá um abraço de tirar o fôlego. E o melhor, não te solta de jeito nenhum!!! (rsrsrs). Tem coisa melhor?
Mas também existe o outro lado da moeda. Como estamos diariamente em contato com os nossos pacientes, passamos a conhecer melhor cada um deles. Sabemos o seu nome, um pouco da sua vida, conseguimos associar o rosto a pessoa (até eu que sou péssimo nisso consigo), lembramos de cada um deles e sentimos a sua falta. Isso faz com que 1, 2, 3 dias sem o paciente aparecer, faltando ao tratamento, já passe pela nossa cabeça: "Fulano sumiu.", "Será que ele piorou", "Será que entrou em óbito". E por muitas vezes, quando vamos procurar saber, já consta no sistema o óbito.
Pra quem quer trabalhar com isso, saber lidar com essas perdas é essencial.
Mas voltando a falar da parte profissional e não da sentimental (rsrsrs). Também passei pela primeira emergência, e, como um bom amante de tumulto e correria, "nascido e criado" em uma emergência de hospital público, é claro que fiquei doido (no bom sentido).
Sala de tratamento lotada, maqueiro, 4 técnicos (3 staffs e 1 especializando), 2 médicos staffs, 3 médicos residentes,  uns 6 enfermeiros e técnicos de enfermagem (entre staffs e residentes) e 3 Físicos - Médicos (1 staff e 2 residentes), totalizando, 19 pessoas. Claro que os pacientes e acompanhantes que esperavam o tratamento, ao ver toda aquela movimentação, com aquele povo todo entrando no setor, ficaram super curiosos para saber sobre o que se tratava. Alguns chegaram até a perguntar se alguém tinha entrado em óbito.
Mas conitnuando...
Vou tentar contar de forma bem objetiva.
Aquele povo todo na sala, uma menina nova com um sarcoma no ombro enorme, sentindo muita dor. Equipe médica começa a orientar a equipe técnica quanto ao tamanho do campo, para irradiar a lesão. Em seguida é passado que a técnica é a de campo direto, ou seja, de forma bem grosseira de se entender, uma irradiação alta de forma frontal. Enquanto isso, a equipe de enfermagem contem a paciente com faixas e administrando medicamento para acalmá-la. Falando assim, parece ter sido simples né? Mas pode ter certeza que nem chegou perto disso.
Campo determinado, estrutura dentro do campo para ser irradiada, gantry na posição, enfim, tudo definida. É quando chegam os Físicos-Médicos. A equipe técnica, com o auxílio do espessômetro, descobre qual o DAP (Distância Ântero-Posterior) do ombro do paciente, para os Físicos fazerem o cálculo da MU (Unidade Monitora) que vai ser utilizada, que de forma também grosseira de explicar, é o tempo que o paciente será irradiado. Os Físicos abrem uma pasta com números até a alma, calculadora científica no meio da pasta, e um começa a passar todos os números pro outro, inclusive o DAP, que no caso desse paciente, era de 18cm (isso mesmo, o DAP do OMBRO da paciente, era de 18 cm). Feito todos os cálculos, é então passado para a equipe técnica que o MU é de 323 (que é o tempo de exposição do paciente, em segundos). Todos para fora da sala, e é feito o tratamento de emergência.
Todos cuidado é pouco. É preciso muita atenção, e um trabalho em grupo perfeito.

Bom, já escrevi horrores e to cheio de sono, por isso, vou parar por aqui. Mas ainda não sei que título dar a esse post.
Amanhã, penso em um melhor do que vou deixar por aqui agora, e faço as correções ortográficas.
É isso.
Grande abraço a todos!!!